Sozinho na multidão
O som da cidade é uma sinfonia ruidosa e implacável, de buzinas estridentes, de milhares de sapatos apressados e de fragmentos de conversas que flutuam no ar frio do final da tarde. Estou parado na Praça do Comércio, em Lisboa, onde o amarelo vibrante dos edifícios e o azul imponente do Tejo se encontram. A multidão, densa e constante, flui em meu redor como um rio imparável. É apenas mais um rosto, um casaco cinzento e um olhar fixo no meio da maré de gente, mas o vazio dentro de mim é maior e mais pesado do que o peso da praça inteira. Há mais de um ano que a depressão é uma companheira constante. Não é uma melancolia ocasional, mas uma névoa espessa e fria que se apoderou da liberdade, amortecendo todas as cores, todos os sons e, pior de tudo, todos os sentimentos. As pessoas passam por mim, riem, falam ao telefone, apressam-se para os seus destinos, talvez para um jantar quente, para um abraço, para outro propósito qualquer. Cada sorriso que vejo é uma ...









