Crónica do Meu Funeral
Morri. Chegou a minha hora, aquela vivemos sabendo que um dia chegará, embora pensemos que só acontecerá aos outros. A minha alma ainda está por cá. Não sei o que me espera no além, no céu. Admito que esta transição deixará saudades, essa eterna palavra tão portuguesa. A capela do cemitério de São Martinho, está composta. Com pessoas que me amavam, sobressaindo o meu núcleo familiar; outras que me conheciam de vista e ainda alguns que vieram por uma questão social, como se houvesse um controle de ponto celestial garantindo bónus no pós-vida para quem comparece a funerais. Os meus filhos, a minha mulher e a minha nora estão cá, com os rostos marcados pelo peso da despedida, porque, na verdade, fiz parte das suas vidas. Os amigos também aqui se encontram. Alguns seguram a lágrima que atesta a lealdade e a amizade. Lembram-se dos momentos compartilhados, das risadas, das conversas sérias e das tontices ditas no calor de uma poncha ou da cerveja. A morte tem um efeito curioso so...