Crónica na Torre Eiffel
Faz-se um raro momento de silêncio neste lugar cheio de gente. Estou sentado num banco próximo à Torre Eiffel, em Paris, um dos pontos turísticos mais movimentados do mundo.
Ao meu redor, há o burburinho incessante de vozes, o som das rodas de malas que roçam no chão, e as risadas ocasionais de crianças que correm.
Mas agora, por um breve instante, todos parecem em suspenso, talvez admirando a imponente torre de ferro que se ergue para o céu cinzento típico da cidade luz. O vento traz uma brisa leve que balança os ramos das árvores, e, por um instante, é possível ouvir o suave farfalhar das folhas.
No meu lado direito, um grupo de turistas espanhóis está animado, rindo e tirando fotografias.
Uma jovem posa para o namorado com a Torre Eiffel ao fundo, inclinando a cabeça e sorrindo, enquanto ele se concentra para captar o ângulo perfeito.
Ouço fragmentos de conversa sobre a beleza do lugar, e, pelo jeito como falam, é evidente que estão encantados. Passam o telefone de mão em mão, e cada um quer registrar um pouco de si nesse símbolo de Paris. É como se uma simples foto pudesse eternizar a experiência de estar aqui, de fazer parte dessa paisagem icónica.
Um pouco mais à frente, um casal de idosos caminha lentamente de mãos dadas. Parecem absorver a atmosfera parisiense com serenidade, sem pressa, como se já tivessem passado muitas vezes por aqui. Os seus olhos percorrem a torre de cima a baixo, e o sorriso discreto que trocam ao olhar um para o outro revela o carinho que compartilham. Não tiram fotos; para eles, o momento é mais valioso que a imagem. Param alguns minutos, e o homem parece murmurar algo à esposa, que responde com um leve aceno de cabeça. É uma troca silenciosa, mas cheia de significado.
Um vendedor ambulante aproxima-se, carregando miniaturas da Torre Eiffel presas num chaveiro que balança no ar, como quem oferece uma joia preciosa. Repete, com um sotaque forte, “Quatre euros, quatre euros!” enquanto exibe o item para os turistas, que ora o ignoram, ora balançam a cabeça em negativa. Apesar da falta de interesse, não parece desanimar.
Com um sorriso insistente, caminha até outro grupo de turistas que acaba de chegar, pronto para tentar mais uma vez.
O som de uma mota ecoa pelo Champs de Mars e logo desaparece, coberto pelos barulhos da cidade.
De repente, o céu abre-ae e um raio de sol inesperado atravessa as nuvens, iluminando a torre com uma luz dourada que parece dar nova vida ao ferro. Um espetáculo natural que gera uma onda de exclamações e empolgação.
Muitos levantam as suas câmeras e telemóveis para capturar o momento, como se o brilho momentâneo fosse uma aparição divina.
Perto de mim, um grupo de crianças francesas passa correndo, guiadas por uma professora que tenta, em vão, mantê-las sob controle. Olham para a Torre Eiffel e gritam em êxtase, talvez sem perceber o quão icónico é esse monumento que veem todos os dias. Para elas, a torre é apenas parte do quotidiano; não têm o mesmo espanto dos turistas que vieram de longe. Seguem caminho, aos pulos, e a professora, com um ar exasperado, segue-as, tentando manter um mínimo de ordem.
Levanto os olhos e observo novamente a torre, a sua estrutura firme que parece desafiar o tempo e as intempéries. Uma nuvem passa lentamente por trás da torre, e os raios de sol criam sombras que se movem suavemente. Sinto-me pequeno diante da grandiosidade da estrutura, mas, ao mesmo tempo, conectado com as milhares de pessoas que vieram antes de mim para admirar este mesmo símbolo de engenharia e beleza.
Uma gaivota pousa num galho acima de mim e solta um grito estridente, quebrando o silêncio relativo que pairava ao redor. Observa os turistas lá embaixo como se fosse dona do lugar, imperturbável, antes de alçar voo novamente. Seu grito ecoa por um instante, antes de ser substituído pelo som suave de um acordeão tocado mais ao longe, misturando-se com a música ambiente que parece estar sempre presente nas ruas de Paris.
À minha esquerda, um grupo de jovens tenta equilibrar-se sobre os patins, arriscando piruetas que atraem olhares curiosos dos passantes. Riem alto quando um deles se desequilibra e quase cai, mas a queda é aparente apenas. É como se dançassem, traçando movimentos sinuosos e despreocupados pelo chão.
Ao lado do banco onde estou, uma mãe senta-se, tentando acalmar o bebé que chora no seu carrinho. Oferece um brinquedo, uma garrafa de água, e finalmente coloca-o no colo, embalando-o enquanto murmura em francês. Aos poucos, o choro diminui, e o bebé parece acalmar-se com o som suave da sua voz, que contrasta com o movimento ao redor.
Do outro lado da praça, um grupo de turistas japoneses espera pacientemente enquanto uma guia explica, em tom entusiasmado, detalhes sobre a construção da torre. Alguns escutam com atenção, mas outros distraem-se com a vista.
A guia, vestida com um lenço colorido e gesticulando com energia, parece não se abater pela falta de atenção. Continua a narrativa sobre a história e o simbolismo da torre, sua importância para a cultura francesa e o seu papel como ícone mundial.
Sinto o aroma de crepes vindo de uma das barracas próximas e, por um momento, o cheiro de manteiga e açúcar invade o ar, misturando-se com o aroma das flores de uma pequena barraca ao lado. Uma jovem pega num crepe e sai andando, mordendo com satisfação enquanto observa a paisagem. O cheiro parece ter atraído mais pessoas, que agora formam uma pequena fila à espera de uma dessas delícias tradicionais.
Mais à frente, um homem de fato passa apressado, talvez atrasado para algum compromisso, carregando uma pasta preta e um telemóvel colado ao ouvido. A sua expressão é séria, alheia ao ambiente e aos turistas ao redor. Contrasta fortemente com a despreocupação de quem está aqui para admirar e apreciar o momento.
Olho em volta e percebo que, apesar do fluxo constante de pessoas, cada um parece absorver o lugar à sua maneira, capturando diferentes facetas da cidade. Alguns tiram fotografias, outros apenas observam, e muitos, como eu, deixa-se perder em pensamentos.
Quando o sol finalmente começa a se pôr, uma luz alaranjada cobre a torre e o céu de Paris, pintando tudo com uma aura calorosa.
As sombras alongam-se, e o burburinho dos turistas ganha uma suavidade quase sussurrada, como se todos estivessem se despedindo do dia.
Observo o movimento e a diversidade ao meu redor, refletindo sobre o privilégio de estar aqui, parte desse cenário vivo, onde cada pessoa, cada som e cada detalhe parece contar uma história única.
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