Oia, Santorini, um quadro que se respira



O sol começa a descer sobre as cúpulas brancas e azuis de Oia, tingindo tudo com tons de ouro e laranja. 

Estou sentado num pequeno muro de pedra vulcânica, virado para o mar Egeu. 

À minha frente, os telhados em curvas e as escadas estreitas parecem fluir pela encosta, como se este local tivesse sido moldada pela própria luz.

O ar cheira a sal e a jasmim. Uma brisa suave traz o som distante das gaivotas e o murmúrio de conversas em várias línguas — inglês, grego, italiano — que se misturam num fundo musical discreto, ritmado pelo som dos passos que ecoam nas pedras.

Dois pintores montam cavaletes junto à muralha. Um deles, de chapéu largo, observa o horizonte com uma concentração quase religiosa antes de traçar as primeiras linhas num papel. 

A cada pincelada, a tela ganha a tonalidade quente do poente, aquele brilho quase impossível de capturar — e, ainda assim, tenta, como se soubesse que o verdadeiro desafio está em traduzir o sentimento, não a cor.

Ao meu lado, um casal partilha uma garrafa de vinho branco de Santorini. Brindam em silêncio, com os olhos fixos no mar, talvez sem precisar de palavras. 

Um grupo de amigos mais abaixo ri alto; alguém tenta tirar uma fotografia no instante exato em que o sol toca o horizonte. 

É o ritual diário da ilha — todos à espera do momento em que o dia se transforma em memória.

As casas, com suas portas pintadas de azul e vasos de buganvílias, parecem respirar junto com o vento. 

Um gato branco espreguiça-se num parapeito e observa o movimento com ar de quem já viu este espetáculo milhares de vezes.

De repente, alguém bate palmas — é o pôr do sol. As palmas multiplicam-se, e uma plateia de desconhecidos celebra em uníssono a beleza efémera do instante. 

Alguns deixam escapar exclamações em voz baixa, outros ficam simplesmente imóveis, com o olhar perdido no horizonte que agora se desfaz em violeta.

Com a noite a chegar, as luzes de Oia acendem-se como um colar de pérolas ao longo da falésia.

Ouve-se música suave vinda de um bar próximo — talvez um bouzouki, talvez uma canção tradicional que flutua no ar misturada ao cheiro de peixe grelhado e azeite fresco.

Mais tarde, enquanto o céu se cobre de estrelas, continuo ali, imóvel, sentindo o rumor tranquilo da localidade famosa a adormecer. 

A vila desacelera, mas o encanto permanece. 

Cada som — uma gargalhada distante, o estalar de um copo, o eco dos passos que sobem as escadas estreitas — parece conservar o eco do dia que acabou.

E penso: talvez o que torna Oia inesquecível não seja apenas o pôr do sol, mas essa sensação de plenitude silenciosa, de fazer parte de um quadro que respira, uma harmonia onde o tempo parece não ter pressa de passar.

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