Procura-se a mística perdida do Marítimo


Estou sentado em frente à porta principal do Estádio do Marítimo, no Funchal, neste primeiro dia de dezembro de 2024.

São 14h30 e a carrinha do Esquadrão Martimista começa a tocar a histórica música do clube que diz que o Marítimo soube honrar a Madeira com orgulho e altivez.

O jogo começa às 15h30 contra um clube que nem sei qual é.

O dia ameaça chuva desde as 9 da manhã. Para já, está fresco, mas não chove. 

Espero que o Tony passe por aqui, pois tem o bilhete para entrar para a central.

A loja do Marítimo, como sempre, está bem frequentada.  Nunca o clube teve tantos apoiantes, apesar de estar a fazer um campeonato dececionante na II liga. Depois de um ciclo de vitórias consecutivas surgiu outro de derrotas. Espero que hoje inverta a tendência. Gostava de ver o jogo até ao final… Sim, porque quando começa a perder saio do estádio.

Mesmo assim, já vi dias com mais pessoas a circular por aqui.

Hoje o Bernardo não veio. Está de Urgência no Hospital Dr. Nélio Mendonça, após um dia de folga, que sucedeu a outra Urgência de 24 horas. 

Vejo crianças perfiladas em frente à loja. Devem ser as que acompanham as equipas na entrada em campo.

À minha frente ainda persistem as antigas portas de ferro do emblemático estádio. À direita, uma antiga parede, com bilheteiras, resiste aos desejos da direção do clube em cortar ainda mais amarras com a história.

Aliás, este “novo” estádio nunca mais foi tão fogoso como o mítico Caldeirão dos Barreiros, onde poucos ganhavam, mesmo os grandes clubes nacionais. Curiosamente, apenas o Sporting conseguiu impor-se mais ao longo dos anos.

Começo a ouvir o som dos altifalantes do estádio. 

Penso que será melhor dirigir-me à porta principal.


Já estou no interior. Sentei-me e começo a ouvir o saudoso Max a cantar o Bailinho Madeira. Há muito que não vejo os jogadores do maior das ilhas darem um bailinho aos adversários neste campo.

Ainda por cima, acabei de saber que o clube adversário de hoje é o Benfica B. Além do peso do nome, ocupa a 3.ª posição na tabela onde o Marítimo deve andar pelo oitavo ou nono. 


A equipa adversária já treina. A formação da casa só tem o guarda-redes. Deve ser para treinar e não sofrer tantos golos.

A restante equipa entra agora.

O Speaker anuncia a entrada e grita : Vamos Marítimo.

No centro do campo, uma grande publicidade da Coral não condiz com a boa política desportiva. Mas as coisas são como são.

Além disso, o governo dará mais dinheiro que a Empresa de Cervejas da Madeira, pelo que não se compreende bem esta realidade. No fundo, é uma realidade semelhante à que se passa do Rali Vinho Madeira, onde a Região é quem suporta a maioria do apoio e as estradas estão cheias de publicidade da Coral. Pois é, é a mesma empresa.

A equipa do Benfica B é muito barulhenta, ao invés da local, que nem se ouve.

Do lado da equipa continental até ouvi agora na peladinha que estão a fazer a palavra carago.

Os tambores da claque do Esquadrão Martimista já se fazem senti.

A oponente. No outro extremo do estádio não está presente. Pelo menos por enquanto.

Começa outra música do Olé Olé, Marítimo, viva o Marítimo Olé, és a nossa maravilha.

A música não me diz nada. É rafeira, ou melhor pimba. Até imagino alguém a cantar no campo com as acompanhantes a bailarem como se fossem umas grandes artistas.

Felizmente acabou.

Estou sentado no número 75, da fila J.

Faltam 15 minutos para começar. E o estádio não está cheio. Diria que meia casa, ou talvez nem tanto.

O jogo está prestes a começar.

Quando o  árbitro apitou uma das crianças com paralisia cerebral assustou-se e de pronto foi confortada pelo capitão do Marítimo que a acompanha. Bonito gesto.

Vamos ver o que isto dá.

Começa o Marítimo. Ataca da esquerda para a direita.

A claque da direita sempre veio. É a F 13.

A chuva desce da serra.

Passou por aqui, mas fugazmente.

O Marítimo carrega sem nexo.

O Benfica marcou aos 18 minutos.

Fiquei para ver. Mas além do Marítimo não ser consequente nos ataques, o árbitro está a ser descaradamente benfiquista. Três cartões amarelos para o Marítimo e nada para a equipa de Lisboa, que já teve ocasiões para ser admoestada com a cartolina amarela.

Intervalo entre a Coral e a Sagres, as cervejeiras que patrocinam cada uma das equipas, sendo a primeira para o Marítimo e a segunda para o Benfica B. 

A chuva dissipou-se.

O Marítimo continua a jogar sem discernimento e sinto que o treinador da equipa insular não tem unhas para conseguir motivar os jogadores que não sabem honrar a camisola verde-rubra que vestem.

Não quero ver mais. Vou embora.

Soube, mais tarde que o Marítimo sempre conseguiu empatar por Martim Tavares, um jogador que mexe muito com a equipa, mas que os “misters” teimam em tê-lo no banco.

Seja como for, continuo a afirmar que mantenho a procura pela mística perdida do Marítimo.


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