a seca que veio dos Correios
Tenho uma encomenda para levantar. É de uma empresa que teima sempre em ultrapassar os 2 quilos, e, com isso, não me resta outra saída senão ir aos CTT a recolher.
Cheguei e vi a sala cheia. Retiro o ticket. O meu número é o 122. Olho para o ecrã e vejo que ainda vai no 102.
Sabia que teria que esperar.
Alguém com as tranças à Mae, da Acólita, está junto a uma das duas senhoras que atendem naquela hora a seguir ao almoço. Não concretiza a entrega e vem para perto de mim com uma caixa formatada dos CTT e uns sacos. Deduzo que é para colocar lá dentro. Mas anda por ali a sarilhar e a falar ao telefone numa língua impercetível. Só entendo a tosse persistente. E, por isso, naquele espaço fechado, afasto-me.
Na outra ponta, uma senhora sentada tenta disfarçar a tosse. Assoa-se. Já tem o nariz marcado pelo movimento contínuo.
A mudança de números passa devagar.
Um asiático, mais branco que o leite, chega-se a uma das colaboradoras e pergunta, em português, se ela fala inglês. Teve sorte. Não só por falar como por ajudá-lo a colocar vários sacos com perfumes e outros coisas do género que tem nos sacos cheios de uma farmácia. Penso que se fosse português a senhora não se disponibilizaria. Aliás, não o devia fazer, como não achei correto que o ajudasse a empacotar. Sim, porque enquanto fazia isso, não atendia outras pessoas. E a sala estava cheia e só com duas senhoras a atender.
Outros chegam por causa do subsídio de mobilidade. Como sempre, falta qualquer coisa. Vão embora.
Um dos que me precedem vem com uma caixa retangular. Diz que não percebe nada daquilo. A senhora ajuda e até tira medidas. Não vi razão para tal. Parece que lhe refere que não pode seguir, porque a soma do comprimento, da largura e da altura perfaz um número que abana com a cabeça que não... Achei estranho, mas mudei o olhar. Voltei a depositá-lo no asiático que não havia maneira de acabar de escrever a morada. Bem sei que era para longe...
Com tanto tempo, a funcionária já estava a atender outras pessoas. Depois, com a chegada de uma colega disse que ia almoçar. Nem acabou de atender o senhor. E pareceu-me ter dito às colegas que ele teria de tirar novo ticket, o que não fazia sentido.
A verdade é chegou ao 122 e ele ainda lá estava à espera. E já lá encontrava quando cheguei.
Entretanto, um senhor de meia idade chegou sem tirar bilhete e pergunta qualquer coisa na parte dos serviços bancários. Percebe-se que nem sabe bem ao que vem. Depois de facultada alguma informação é informado que deve dirigir-se ao balcão geral. Talvez fossem certificados de aforro, ou algo do género. Porque mesmo aí, demora a fazer perceber-se. Aliás, não sei como passou à minha frente porque chegou, seguramente, pelo menos meia hora depois, e não era nenhum idoso, deficiente ou grávido...
Ali perto, a tal rapariga de cabelo cor de vinho, continua com a sua tosse. A senhora da ponta parece ter esgotado o stock, e parou de tossir.
Chegou a minha vez, e tão rápido como queria que acontecesse com as outras pessoas, estava despachado. Tinha passado muito mais de uma hora.
Paulo Camacho
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